O impulso provocado por um espelho chega a ser constrangedor. O mito da rainha má que conversava com o seu ego imenso através de um espelho, pecando de vaidade, atravessa-nos irremediavelmente o subconsciente. A Alice, por seu lado, atravessava-o e imaginava outros mundos para lá do simples espelho nos seus delírios de menina reguila, desobediente, fugindo do mundo dos adultos através da contemplação extrema de si mesma.
O espelho que nos reflecte é, pois, uma exteriorização de nós mesmos ou do espaço que os envolve, ou do intrigante e infantil aparece-desaparece.
Na decoração, “Espelhos-de-ver”, são luminosas presenças em todo o mundo, em todas as formas, em todas as salas, quartos, fachadas e por aí fora, não admira que tenham surgido envolvidos em molduras vincadas pela cultura e o tempo onde se inserem, por rivalizarem com quadros numa dialéctica do efémero e do permanente. Afinal, abrem o espaço e atraem-nos irremediavelmente.
O que pretendo com estes trabalhos é, tão-só, dar continuidade a essa forma decorativa, centrada numa moldura feita em papel que embeleze quem olha ou o sítio onde se encontra. Pretendo, sobretudo, transmitir emotivamente a nossa forma de nos olharmos ou colorir o espaço onde permanecem. Esse gesto tão quotidiano mas tão presente. Esse fascínio tão familiar a que resistimos incoscientemente. Ou não: Eu gosto da Alice e do seu país imaginado!
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